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terça-feira, 19 de junho de 2012

Delinquentes / Dia D – O desembarque do underground na praça da república (uma visão de dentro das trincheiras de mais uma batalha vencida).

Texto extraído do site http://delinquenteshc.blogspot.com.br/


Por Jayme katarro.

Gravação do DVD Planeta dos Macacos – Delinquentes
Praça da República – 20/05/2012
 
Deixo claro que essa é uma visão particular do Dia D, de quem participou diretamente da obra. Pode parecer pretensioso em algumas horas, mas tentei ser o mais verdadeiro possível a tudo que aconteceu nesse grande dia para a banda (talvez o dia mais importante da história dos Delinquentes até o momento).

Não à toa a praça da república foi escolhida como local para a gravação do 1º DVD individual dos Delinquentes, Planeta dos Macacos (participamos da gravação de uma coletânea da Pro-Rock em 2010, junto com o Norman Bates e Rennegados, o Bodas de Ouro, mas que infelizmente ainda não foi concluído). A praça, com toda a sua pompa e beleza turística, também acolhe há décadas a cena roqueira da cidade, desde o tempo dos saudosos shows no teatro Waldemar Henrique (conhecido na época como o “Templo do Rock Paraense”), passando pelo clássico Rock 24 Horas (ressalto que o último, que terminou em confusão, não aconteceu nessa referida praça, e sim na praça Waldemar Henrique, na época, praça Kennedy), até os dias de hoje, onde a mesma se tornou point de jovens de todas as espécies do underground local. E nesse dia 20 de maio, sob a alcunha de Dia D, não poderia ser diferente.
Confesso que o meu maior medo, de meses à fio, era que caísse uma chuva daquelas de parar a cidade, já que não haveria palco para o show e consequentemente cobertura (ideia perigosa mas brilhante da Priscilla Brasil, pois acabou contribuindo para um cenário belíssimo e peculiar). Mas até São Pedro provou ter sua simpatia pelo punk, colaborando para que um dia bonito contemplasse um show para ficar na memória e devidamente registrado para as imagens do DVD.
Desde cedo, ainda na passagem de som, começamos a presenciar a chegada de várias tribos de estilos diferentes, num clima que há muito tempo não víamos ali na praça. Uma coisa que me chamou muito a atenção foi a quantidade de crianças, devidamente acompanhadas de seus marmanjos pais e em alguns casos, até netos, curtindo o clima que se instaurou na praça. Eram as várias gerações se encontrando e fazendo parte num coro só, pois a felicidade estava estampada nos rostos e atitudes da moçada. Aliás, um clima irradiante que também estava presente nos bastidores, apesar da passagem de som demorada e cansativa, devido à calibragem da captação do áudio.
Um pouco antes das 16h, como previsto, começou à rolar som mecânico, num set especial que eu mesmo preparei para o dia, que incluía clássicos de várias épocas do rock local, nacional e internacional, logicamente, com o bom e velho punk & metal incluído que tanto fez a cabeça de décadas naqueles gramados. E foi com essa trilha sonora que pudemos presenciar que seria um dia mesmo especial, pois várias pessoas estavam desde cedo em clima de confraternização, alguns até mesmo agitando como se já tivéssemos tocando.
Com o sol quase se pondo, Priscilla Brasil da Greenvision e diretora do DVD dá a ordem que esperávamos e Nazaco, percussionista do Trio Manari, dá início ao ritual com sua introdução sinistra e enigmática (que ele mesmo apelidou de “A Floresta”). A banda segue então do Ica (antigo Núcleo de Arte da UFPA) até o palco, passando pelo meio da galera, em mais uma ideia brilhante dela.
Com certa dificuldade chegamos ao palco e com o anuncio do Nazaco, batizamos o dia com Indiocídio, e aí sim pudemos sentir como estava o clima de euforia do público, interagindo e cantando os sons, com rodas de pogo e moshes enormes e gigantescas. Apesar de estarmos esperando o nosso habitual público, era nítido a energia que acabou contagiando a banda, pois quando eu olhava para os lados, via só sorrisos nos rostos de meus parceiros de palco. O público na frente deu muito trabalho aos seguranças, empurrando o show todo as grades de proteção. Era a primeira vez que levávamos tanta gente assim para um show unicamente nosso e dava para ver também que haviam bastante pessoas no gramado da praça, numa fileira que se estendia até o monumento e arredores e também por trás do anfiteatro. Era como se estivéssemos cercados numa arena medieval, e só então fui entender de fato a ideia da diretora.
No meio do show, uma queda de energia,  nos fez começar a música Vagamundo novamente. Também demos uma pequena pausa de alguns minutos para trocar a bateria da câmera da grua, cortesia da Funtelpa, sempre parceira da banda e da cena local. Fora isso, tudo foi ocorrendo na mais perfeita ordem. Em Cemitérios, anuncio as participações do Leandro do Baixo Calão e Djair do Antcorpus (de Parauapebas), ambos com vocais grotescos que deram um ar mais agressivo ainda para a música e com performances arrebatadoras. Chamar o Djair foi mais que uma obrigação, criando um link com o metal do interior do estado, nas mãos dessa figura que tanto batalha pela cena por lá. E Leandro, bem, Leandro é rei no underground local. Não podia faltar de maneira alguma numa festa dessas. A outra participação, vinda direta de São Paulo para a gravação, era a Sammliz, que, ao ser anunciada em Um Belo Dia pra Morrer, foi ovacionada pelo público, famintos que estavam de um show do Madame Saatan. Com seu carisma de palco ímpar, deu um ganho extra ao show e fez por merecer sua longa viagem (depois me confessando feliz em um bar que esse show valeu por 3 meses dela longe de um palco).
Pedrinho, Pablo e Raphael estavam com uma energia extra, como que exalando nos sons a essência da sede que estavam por esse dia. Não à toa. Foram meses preparando o repertório e ensaiando com afinco para que tudo pudesse ocorrer com um mínimo de erro (o que é até natural acontecer, e de fato aconteceu, devido a própria energia do show).
No repertório, iam se mesclando clássicos de todas as épocas com as mais novas, com a moçada cantando em uníssono todas como se fossem de uma mesma fase. Era como se músicas como Gueto e O Viciado (da década de 80) eram irmãs de outras mais recentes como Formigueiro Febril e L’uomo Delinquente.
Depois de 16 músicas, agradeci todos os apoiadores e envolvidos e nos despedimos com Matança de Animais, aonde pude ver sem modéstias uma das maiores rodas de pogo em uma banda local na cidade. Após isso, voltamos para repetir (à pedidos da produção) a música Planeta dos Macacos e findamos pra valer com Ferrovia Norte Sul (que não deve entrar no DVD), da extinta banda mineira N.A.D.A., cover que levamos desde a década de 80 e que muito representa a história da banda.
Após isso, só nos restava comemorar com amigos, fãs e familiares no camarim e na praça, aonde ouvi de várias pessoas que foi um show que resgatou na memória de quase todos os bons anos de shows na praça. Aliás, o maior saldo positivo foi que entregamos a praça intacta, pois no dia seguinte, ainda estavam lá as mesmas plantas e gramados que eu pensei que seriam devastados no dia. Alem disso, não houve uma incidência de brigas ou confusões, terminando de vez com esse estigma antigo que compara o rock local com vandalismos e depreciações.
 
Agora é esperar pela edição e chegada da fábrica desse grande material que temos em mãos, o que deve acontecer lá por outubro ou novembro. Já pude assistir algumas imagens do dia e posso dizer que são imagens muito porradas, de uma maneira que ainda não vi aqui em Belém. Pelas próprias fotos e vídeos caseiros que pipocaram na net dá para se ter uma ideia do resultado positivo que foi. Parabéns à todos!!!

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